Era uma noite muito fria, meados de julho, aqueles julho
que se acabam de tanto chover , eu sempre fiquei a mercê do clima, refletia
fora o que por dentro me escorria, eu ficava sentada no alpendre da minha antiga
escola, nunca parei de ir lá, mesmo tendo concluído o ensino médio, são tantas
lembranças, tanto ferro fundido terminado em ferrugem, ficando podre, fazia
aquilo pra testar a minha sanidade, pra testar minha memória.
Todos os dias eu esperava escurecer e ficava lá, vendo o
movimento, exercitando minha mente, alimentando minha liberdade, sempre
procurei a função disso tudo, mas nunca encontrei. Sou daquelas que só acredita
em fatos, desde pequena sempre tive o habito de olhar todos os detalhes que me
faziam ser eu no espelho, olhava cada traço das mãos, cada sinal no corpo,
revisava mentalmente minhas características, achava que poderia ser apagada,
que a minha história de nada valeria, que teria validade e como humana que sou
tenho, mas pensei que ninguém nunca lembraria de uma menina normal, que sempre
fez tudo normal e que nada foi alterado no ciclo tedioso do ser humano, aquele
que a gente aprende nas aulas de ciência, nascer, crescer, reproduzir e morrer,
eu não queria aquilo, definitivamente eu não queria, mas o que pessoas normais,
com qualidade e aptidões normais, poderia fazer de uma vida predefinida a ser
nada mais que um normal?