Quando os dias são maiores do que parecem e o silencio é o
único barulho anunciando uma nova noite. Aumentamos nossas chances de sermos
normais, ou não? Somos feitos de poeira, deixando rastros de sujeira por ai,
rastros de coisas soltas, rastros de sonhos soltos. Deixei para trás uma
montanha com desabamento marcado, acho que explodiu, deixei pra trás ilusões soltas, empoeiradas, enlameadas, despedaçadas e desacreditadas, sai limpa dali
de um casulo pequeno demais e velho demais pra me suportar, saí dali sangrando,
respingando nas paredes, sujando a realidade, sai dali insana, gritando e
soltando qualquer demônio escondido, sai dali humana, chorando e perguntando ao
acaso o porquê de tantas dores. Foi como um ritual de passagem, insinuando que
a dor é necessária e que precisa ser sentida. Hoje me sinto inteira, analiso as
minhas cicatrizes como quem admira um quadro do Picasso, uma primeira edição do
Poe, um disco do Beatles, mesmo que em volta esteja tudo em ruínas, sobrando
apenas pedaços pra ajudar a reerguer, comecei a por os pequenos tijolos, a
montar um novo quebra cabeça de mil peças. Sabe é meio solitário aqui, tudo em
volta tem letras e eu só escuto músicas, leio livros, realizo provas, faço
amor. Só acredito em poucas vozes, só me entrego a uma, só me sensibilizo com
patas e bigodes e é nesse mundo que encontrei a calma, claro que a euforia me
alcança as vezes, respiro fundo observo o sono, choro um pouco e continuo,
viver é uma coisa dolorida sabe, mas é preciso ser sabe, é preciso ser feliz
mesmo que as vezes tudo pareça um extremo, eu volto a continuar, sempre volto,
viver é sim uma coisa estranha, as vezes dá uma desesperança de tudo, as vezes
tudo arde, tudo fere, tudo coça, mas é preciso esquecer a vertigem de viver, o
mundo não acaba agora, o mundo não acaba aqui e o meu mundo foi feito de massa
de modelar para ser mais fácil modificar. A lagarta que fui deixou o casulo
fraco e nasceu borboleta pulsante para parar de temer, não sinto medo, não sinto
fome, não sinto tristeza e aonde estou sinto um amor único, incapaz de se
dividir e se expandir, aonde estou é longe demais de onde eu deveria estar e quem eu fui desapareceu pra longe, tão longe que deixou de existir.
sábado, 20 de setembro de 2014
quinta-feira, 13 de março de 2014
Redoma
Dentro de mim existia uma pausa, dessas com controle
quebrado e como tudo que quebrado está quebrado permanece não tinha pra onde correr, resolvi
andar, olhar o asfalto, a rua, o movimento, as caras que eu não conhecia,
precisava de ar. Enquanto andava uma moça me chamou a atenção, estava andando
sorrindo sozinha, cantando um refrão que me era velha conhecida “ Hoje eu
cansei de saudade e vou mandar te trazer, nem que precise mais de mil cavalos brancos
pra ti convencer”, pensei em como essa música é linda e em como eu esqueci que
as coisas bonitas ainda existem, resolvi olhar mais de perto e com olhos de mar
inundado a menina cantarolava “ Se eu fosse um rei, eu te dava abrigo no meu
país, mas eu não sou por isso segues como exilado sem saber de mim”, será que
ela esperava ou amava alguém pra ter essas palavras grudadas no céu da boca? Resolvi
perguntar.
- Licença, bonita
canção, né?
- É muito especial, acordei com ela colada no espelho da
memória e resolvi fazer dela hoje um hino, por especial ser a melodia e
especial ser o dia.
- Um dia muito especial para essa música ser a sonoplastia,
hein!
-É sim, um amor que já morreu e onde se enterrou nasceu
planta nova, brotou hoje em flor e percebi que o amor renasce sempre. E me
sinto feliz, por ter amor, mesmo morto renascido.
*me despedi e apenas saí sorrindo*
Deixei aquela cena carregada de cheiro doce de amor morto
renascido, cantarolando “ Hoje não importa, nem teu nome insisto em te afirmar,
que essa espera é só uma gota, que só se faz transbordar.”
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